|
Data
09.12.2024 Tema Exposição; Evento; |
Repensando recursos
Há uma crescente consciência coletiva sobre a escassez de recursos e a necessidade de uso cada vez mais inteligente e proveitoso dos materiais. O tema está na ordem do dia e na pauta mundial, e aparece com destaque nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). O Japão é um país especialmente alinhado e engajado com essa causa. A exposição Princípios japoneses: design e recursos apresenta exemplos de grandes inovações no campo do design, realizadas por criadores japoneses em busca de melhor aproveitamento de recursos e materiais, além de menor impacto no meio ambiente. Se tais princípios são os fundamentos desses objetos, também evocam a percepção dos primórdios de tantas produções tradicionais que irradiavam da cultura japonesa, que tanto valoriza o respeito à natureza. Nesta exposição, focamos em peças que podem ser entendidas em distintas categorias ligadas à questão ambiental. Há soluções que possibilitam o uso máximo de algum material, como as de grancho de saci — látex, feito em madeira de árvore morta que fornece a base — quase como impermeabilizante —, aproveitando assim a planta por completo. Temos também peças criadas a partir de resíduos, tornando-se alternativas funcionais relacionadas ao luxo e dar vida nova, e a caso do concreto feito com restos de comida. Temos, ainda, objetos que são criados para substituir outros de modos sustentáveis, caso do nylon feito de mamona e milho em substituição ao nylon comum, derivado do petróleo. Intercalados com inovações tecnológicas e estéticas contemporâneas, estão presentes alguns exemplos tradicionais que reforçam como a filosofia mottainai é inerente ao pensamento japonês. O papel do arroz O arroz, base da alimentação japonesa, marca forte presença logo na entrada da exposição, com a obra de Ikaya Sagara que utiliza a palha desse grão para a construção de tablado pela técnica milenar japonesa chamada kayabuki. Aparece também no tecido obtido a partir do desenvolvimento de tecnologia sofisticada e arrojada de A-POC ABLE Issey Miyake e, em banquetas feitas de arroz, surgem as juta de Kosuke Araki. A inspiração para a mostra nasceu da filosofia mottainai, que prega o “não desperdício”. Esse termo nasce da junção do vocabulário de origem budista mottai, que se refere à essência das coisas e à percepção de que tudo tem valor, com a partícula nai, que indica negação na língua japonesa. Os japoneses costumam usar essa expressão quando algo ainda pode ser aproveitado. Esse conceito, porém, não está limitado ao desperdício material. Ele propõe um novo uso dos recursos disponíveis, mas também um grande cuidado com relacionamentos pessoais e com a natureza, e mesmo com o tempo. A mostra, portanto, oferece aos visitantes um panorama de iniciativas impulsionadas pelo espírito mottainai, alcançadas graças ao investimento consistente em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e alta capacidade criativa, e pretende inspirar nossa sociedade a buscar soluções tão necessárias e urgentes. Escrito por Natasha Barzaghi Geenen Curadora da exposição e Diretora Cultural da Japan House São Paulo |
Rethinking Resources
There is a growing collective awareness about resource scarcity and the need to use materials more intelligently and efficiently. This topic is a global priority and prominently features in the United Nations' Sustainable Development Goals (SDGs). Japan is a country particularly aligned and engaged with this cause. The exhibition Japanese Principles: Design and Resources showcases examples of major innovations in design, created by Japanese designers seeking to make better use of resources and materials while minimizing environmental impact. These principles, which underpin the objects on display, also evoke the essence of many traditional Japanese productions, deeply rooted in a culture that values respect for nature. This exhibition focuses on pieces that can be categorized under various environmental themes. Some solutions maximize the use of materials, like grancho de saci, latex crafted from deadwood, which serves as a base — almost like a waterproofing agent — fully utilizing the plant. Other items are created from waste materials, offering functional alternatives related to luxury or renewal, such as concrete made from food waste. Additionally, there are objects designed as sustainable substitutes, like nylon made from castor beans and corn, replacing petroleum-based nylon. Alongside contemporary technological and aesthetic innovations, the exhibition features traditional examples that highlight how the philosophy of mottainai is integral to Japanese thought. The role of rice Rice, a staple of Japanese cuisine, makes a strong impression at the exhibition's entrance through the work of Ikaya Sagara, who uses rice straw for platform construction via the ancient Japanese technique called kayabuki. Rice also appears in textiles developed with the advanced technology of A-POC ABLE Issey Miyake and in rice-based stools by Kosuke Araki. The inspiration for the exhibition stems from the philosophy of mottainai, which emphasizes “no waste.” This term combines the Buddhist-origin word mottai, referring to the essence of things and the belief that everything has value, with the particle nai, indicating negation in Japanese. The Japanese often use this expression when something can still be utilized. This concept, however, extends beyond material waste. It advocates for the creative reuse of available resources while also fostering care in personal relationships, nature, and even time. Thus, the exhibition offers visitors a panorama of initiatives driven by the spirit of mottainai, achieved through consistent investment in research, technological development, and high creative capacity. It seeks to inspire society to pursue much-needed solutions to today's pressing challenges. Written by Natasha Barzaghi Geenen Exhibition Curator and Cultural Director, Japan House São Paulo |